Coisas de Papel
Tem algum tempo que eu não comento coisas de papel que eu tenho lido. São muitas e como sempre elas se impedem, se complementam e se misturam. O resultado é ansiedade, naturalmente. Ainda mais depois que eu comecei a usar o palm para ler artigos baixados na rede, saindo um pouco da frente do computador.
Vamos lá.
De gibis, li recentemente diversos números da coleção miniTONTo, gibizinhos de 32 páginas com histórias absurdas. Já conhecia a coleção, mas só tinha lido Dimensão Z (Fido Nestii). Dos seis que comprei, os melhores são Pinóquio Vai à Guerra (Elenio Pico), Hermes e Cherlenes (Mariana Massarani) e Nunca Pasa Nada (Gabriel Frugone) - que consegue em duas páginas pequenininhas fazer uma das mais eficientes sínteses da dinâmica dos relacionamentos homem-mulher.
Outro gibi que li recentemente foi a antologia mineira Acrobata HQ, publicada com apoio da prefeitura de Divinópolis. As quatro histórias da edição são muito irregulares, mas a maior delas - uma graphic novel de sessenta e poucas páginas - é impressionante, apesar de uma certa falta de clareza por causa dos desenhos. Marcelo Fontana e Thiago Magalhães devem ter gasto um bom tempo em Grande Castelo, uma história sobre Canudos. Depois dessa história, fiquei muito curioso para ver mais tabalhos da dupla - principalmente do roteirista.
Me sinto meio picareta quando resenho um livro sem ler todo, mas todos os que fiz isso ultimamente permitem. Fico girando entre os três e acabo não terminando nenhum. Mas são todos coleções de textos, então é nenhuma. A Melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar é um puta trabalho de jornalismo investigativo do americano Greg Palast - que só consegue publicar na Inglaterra. Apoiado empilhas de documentos, Palast parte para cima de corporações e políticos americanos. Ainda não consegui ler os dois últimos capítulos, mas só pelos dois primeiros - como as eleições americanas de 2002 foram roubadas e as relações entre os Bush e certos bilionários - o livro já vale.
Cara, Cadê Meu País? é em muitos aspectos o oposto de Palast. O foco de Michael Moore não é nos assuntos tratados, mas no show. Os documentos que ele usa de justificativa, por exemplo, não aparecem nos textos, mas em notas no fundo do livro. Eu nutro uma antipatia muito grande por Moore - acho o sujeito um showman hipócrita e mentiroso - mas não posso negar que em alguns capítulos do livro - em particular "Como Conversar com seu Cunhado Conservador" - o estilo fanfarrão funciona. Mas, se tiver que escolher, fique com o Palast.
Outro livro quase completo é Os Simpsons e a Filosofia, um dos muitos organizadospoe William Irwin usando produtos pop para divulgar questões filosóficas. Gostei particularmente do livro trazer muitos ensaios sobre ética - sem dúvida meu tema favorito - e sobre os elementos intertextuais do seriado. Infelizmente a tradução tem diversos erros, sejam nomes de filmes traduzidos literalmente em lugar da tradução consagrada ou referências pop importantes que se perdem pela falta de atenção dos tradutores. Acho que ficou faltando uma revisão por alguém mais ligado nesses assuntos, mas deixando isso para lá, o livro é muto melhor que o parente sobre Matrix.
Descobri que ler revistas se tornou quase impossível depois do palm. Compro, mas o material na Internet me parece mais perecível, além de eu carregar o computadorzinho o tempo todo. Mesmo assim estou fazendo um esforço para ler a excelente Too Much Coffee Man, revista que se descreve como a highbrown magazine for the lowbrown, or a lowbrown magazine for the highbrown crowd. Acho que a melhor forma de descrever a revista é dizer que é um grande zine. Quadrinhos, críticas, matérias, ensaios, essas coisas. Tudo muito bom, sério. Comprei também a Vogue Homem, mas é bofe demais e não tem tantas modelos bonitas quanto a versão de verdade. Os ternos do ensaio inspirado nas ficções de espionagem me dão vontade de trabalhar mais.
Só que aí eu não ia ter tempo para ler Free Culture. E olha que já está difícil.